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Duque: Uma Noite de Crime e O Conselheiro do Crime

"Esta noite permite que as pessoas libertem todo ódio e violência que elas têm dentro de si (...) Será uma noite tranquila como as demais.” (James Sandin – Uma Noite de Crimes) 


Certa vez um professor durante a palestra de lançamento de sua obra literária disse que escrever um livro é como desfilar nu. Mostrar suas intimidades para serem analisadas, comentadas e julgadas. Talvez, dependendo do que se está escrevendo, o professor tenha razão, sim. 

É por isso que neste instante tenho a ousadia de anunciar que tirarei mais uma peça de roupa. Este é o post de inauguração de uma coluna especial. Nela farei alguns comentários acerca de dois filmes. Ou seja, longas que tenham algum link que os interliguem, mesmo que aparentemente possam tratar de temas bem distintos. Afinal, o interessante em filmes, obras literárias e arte em geral é saborear nossas impressões sobre elas. 

Na medida do possível serão textos breves, como os demais do blog. Um pouco mais dos cinco parágrafos habituais, pois assim não dá tempo do leitor cansar. 

Inauguram a coluna dois filmes recentes: Uma Noite de Crime, dirigido e roteirizado por James Demonaco (Assalto a 13° DP), lançado em 2013. Na outra margem temos O Conselheiro do Crime, dirigido pelo bom Ridley Scott (Gladiador; Hannibal) e roteirizado por Cormac McCarthy (Onde os Fracos Não Têm Vez). 

Se um freqüentador das ainda relutantes locadoras de vídeos se deparasse com os cartazes destes dois filmes, e pensativo sobre qual escolher, fosse convencido pelo peso do elenco e do diretor do filme O Conselheiro do Crime, com certeza não seria uma má escolha, afinal, das duas ainda é a obra mais refinada, mesmo que possua um roteiro considerado lento para a maioria dos cinéfilos. Porém, se Uma Noite de Crime perde no brilho das suas estrelas e no refinamento da obra, por outro lado oferece ao seu espectador uma dose maior de ação. 

Os Novos Fundadores conseguiram reduzir a quase zero a violência nos Estados Unidos, é uma nação livre da violência, do perigo que rondavam às ruas, até a economia melhorou, entretanto foi necessário pagar um preço. Para liberar o impulso de violência natural a todo ser humano, um único dia do ano foi destinado ao livre cometimento de qualquer tipo de crime. Neste dia as pessoas estarim livres para roubar, estuprar e, principalmente, matar quem quer que fosse, inclusive aquele vizinho chato, o chefe irritante ou aquele mendigo da esquina que desvaloriza o bairro. Este é o mote inicial do filme Uma Noite de Crime, que conta com Ethan Hawke, interpretando o pai de família James Sandin, claro defensor daquele que é chamado de O dia da purificação. Aliás, como vendedor de equipamentos de segurança é um dos beneficiados desta política dos Novos Fundadores. Sandin aprova, mas não participa do Dia da purificação, prefere proteger sua esposa e seus dois filhos adolescentes em sua fortificada casa, pelo menos esta era a intenção. Pois não contava com os gritos desesperados do personagem interpretado por Edwin Hodge, nem com o sentimento de compaixão do seu filho Charlie Sandins (Max Burkholder) muito menos com a ira desenfreada dos purificadores

Não é apenas a violência exagerada que se destaca neste filme, mas os elementos discursivos que o complementam: a percepção da violência como não apenas algo inato ao ser humano mas como uma força controlável, a ponto de restringi-la à apenas um dia do ano; a tradicional ou estereotipada família norte americana; o apego às armas e ao estilo de vida yankee; o racismo que, aparentemente, seria o único elemento que impulsionava o grupo de brancos ansiosos para purificar aquele homem negro; e, talvez, a característica mais marcante, que é o forte controle estatal e social. Semelhantes a relógios, aqueles pacatos cidadãos aguardavam ansiosamente pela ordem do governo para cometerem seus crimes livremente e, com a mesma precisão, encerram a carnificina e retornam a sua normalidade angustiante, contando os mortos nas ruas, enquanto assistem o noticiário ou seguem tranquilamente para mais um dia normal de trabalho. Um descontrole controlado. 

Na outra margem, ou melhor, na outra sala de exibição Ridley Scott nos apresenta, assim como James Demonaco, outraa desordem, porém sensivelmente controlada. Diferentemente do contexto anterior, no qual existiam forças governamentais que controlavam o tempo e o lugar da violência, aqui o controle está à mercê das paixões e das falhas humanas. A exceção lá é a regra aqui. Estes personagens não vivem tranquilamente todo ano aguardando por um dia de violência, transitam a todo instante entre traficantes, matadores profissionais e sofisticados, que fazem desta rotina seu ofício diário. Entre aqueles indivíduos paira a desconcertante ausência de controle, a instabilidade! Por exemplo, Michael Fassbender é um advogado que tem muito a perder, mas, para desconforto do espectador, demora para se dar conta disso. E suas idas e vinda em meio àquelas negociatas e arrependimentos nos dizem que ali reside o imprevisível. Quem sabe gostaria o advogado de viver lá em Uma Noite de Crime, pois saberia que ao raiar do dia sua angustia teria fim. 

Da raiva cinicamente controlada em Uma Noite de Crime, a não menos perigosa violência descontrolada, iminente e previsível de O Conselheiros do Crime, qualquer que seja sua escolha, será bem feita, e se forem combinadas será ainda melhor. 


“Se continuar neste caminho um dia fará decisões morais que o surpreenderão” (Reiner – O Conselheiro do Crime)

                                     


Título original: (The Purge)                                                  Título original: (The Conselor).                     
Lançamento: 2013, (EUA)                                                  Lançamento: 2013, (EUA).
Direção: James DeMonaco                                                 Direção: Ridley Scott.    
Atores: E. Hawke, L. Headey,                                            Atores: M. Fassbender, J. Bardem.  M. Burkholder, A. Bareikis,                                               P. Cruz, Brad Pitt, R. Perez.  
A. Kane, E. Hodge, T. Oller,                                              C. Diaz.
Duração: 85 min.                                                                 Duração: 117 min.
Gênero: Terror                                                                    Gênero: Suspense.

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